Ele
vinha a mais de cem por hora. O sinal fechou. Os pneus gritaram. O eixo
quebrou. O carro ainda capotou cinco vezes antes de parar,
completamente amassado como se fosse feito de papel...
O
motorista ainda estava vivo. Gravemente machucado. O pulmão perfurado.
As pernas esmagadas, praticamente decepadas pelo impacto contra o poste.
Com
dificuldade, procurou o celular. O encontrou perto do retrovisor.
Atordoado, não sabia para quem ligar. Sem opção, conectou-se na
internet. Abriu a página principal do seu navegador e digitou.
- Sofri um acidente...
Ele
cuspiu dois dentes e depois tossiu sangue. Por sinal, achou que a
publicação fora muito brusca. Demasiado súbita. A situação já era grave o
suficiente. Espalhar preocupação não ajudaria em nada, portanto ele
acrescentou:
- Rs
O riso digitado retiraria um pouco da carga dramática. Denotaria também seu bom humor em face de situações difíceis...
Mesmo
com a clavícula quebrada, ele conseguiu levantar o braço. Tentou
esboçar um sorriso. Tirou uma foto do rosto completamente desfigurado
pelos estilhaços de vidro, em seguida publicou em seu perfil...
Enquanto ele sofria três paradas cardíacas, os amigos comentavam as publicações e os médicos tentavam reanimá-lo.
No dia do enterro, todos estavam extremamente abalados. O choque foi duro. Mas restava ainda um consolo:
- Ele morreu, mas estará sempre on-line entre nós.
31/08/2011
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