A
reforma da praça Nauro Machado teve um bom resultado. Tiraram os bancos de
madeira. Algumas árvores foram arrancadas, sobraram umas cinco, seis, sete,
mais três palmeiras reais. O local está bem iluminado. Há spots de luz
enfeitando escadaria. Em cima, temos um posto policial. Há também outras coisas
que escaparam ao meu exame. Claro é que as intenções são boas. Um detalhe,
porém, incomodou-me bastante. Ei-lo: os bancos suprimidos. Entende-se os motivos
de tirá-los por estarem quebrados. Não entendo por que não reformá-los e
repô-los. Questão de design, talvez. Resta saber em qual ponto o atual projeto
é mais vantajoso que o antigo. Certo é: existe um ar de modernidade no banco
novo. Os olhos percorrem mais rápido o espaço. Limparam os assentos velhos,
cheio de curvas. No lugar, assentos em forma de parênteses. Tudo isso torna o
fluxo do movimento continuo e dinâmico. Entretanto,
diferente dos shoppings e dos restaurantes fast-food, não sei se a praça Nauro
Machado é um lugar de fluxo acelerado, no qual as linhas de arte não nos retém
por muito tempo ... Ao trocarem os bancos de madeira pelos de pedra, troca-se o
“sentar e ficar” pelo “sentar e partir”. É como se o objeto fincado no chão não
dialogasse com os casarões. Irredutível. Implacável. Frio demais quando
madrugada aperta. Quente demais quando o sol se abre. Compreenderam, os
idealizadores, a praça como local de passeio ou como local de passagem? (Independente
da resposta, avanço que por onde se passeia também se vai de passagem).
Existiam duas qualidades no projeto anterior. Agora, só temos uma. Decréscimo
que debuta de uma falta de sensibilidade, creio eu. Resultado: vejo mais gente nos
cantos – onde é possível se sentar e se encostar um pouco. Irônico dizer que no
meio da rua da praça tem mais árvores que na própria praça. O que faz falta,
pois a sombra da planta, diferente da provinda de uma bancada de concreto, acaricia
quem ali se abriga. Não é algo duro, reto - o vento brinca de conferir-lhe
formas. Debaixo de um pé de alguma coisa, o tempo corre de outra maneira. Na “new”
Nauro Machado espaço se abriu e as pessoas escorreram. Fenômeno parecido se vê
quando dá pouca gente em um evento locado em área grande: o povo “se abeira”. Ao
tirarem os elementos acolhedores da praça do poeta, podaram seu charme, não fazendo
jus às poesias do mesmo, pelas quais não se pode simplesmente “passar”. Na
arquitetura dos versos de Nauro eu permaneço. Não vou direto. Não tenho pressa.
Neles eu me instalo, entranho-me, abrigo-me. Na literatura do projeto de
reforma da praça, porém, eu passo os olhos de forma rápida. Em tudo que foi
feito, infelizmente, não há muito para ler - a pedra dos bancos não deixa.
Igor
Nascimento
14/06/2015
A arquitetura dissuasória é uma tendência em, cada vez, mais países.
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