Nos
bancos da praça Nauro Machado, alguns vagabundos, mendigos e/ou drogados se
instalavam para dormir, consumir drogas ou simplesmente descansar. Na reforma
do local, tiraram os bancos e colocaram pedras para o evitar encostos de ordem
física, social e moral. No banco curvo é mais difícil de se alojar. Há quem se deite, mas o ângulo oblíquo faz com que algum membro não se assente de forma
adequada. Para quem opta por dormir de ladinho, outra obstáculo: o banco é
demasiado estreito e os joelhos sobram. A medida social, clara ou não no
projeto de reforma, talvez contenha a marginalidade, forçando-a a ser mais
marginal, empurrando-a mais para os cantos. De igual forma, sendo agora a praça
um lugar para grandes eventos, evite-se mostrar os acontecimentos de ordem mais
delicada que resultam do descaso do poder público. Varrendo os bancos, varre-se quem neles se
senta. Limpeza do ambiente, detergente
arquitetônico, sem nenhuma estética a não ser mascarar a falta de medidas de
maior porte com relação ao consumo de drogas, à criminalidade e à
desassistência social. Ignora-se que nos bancos onde marginais não sentam,
ninguém mais sentará. Pouco a pouco, tirando item por item dos locais públicos,
bancos, árvores, prédios em ruínas, pessoas sem rumo; chegar-se-ia a um marco
zero. Os gestores, então, retirariam tudo, parte por parte, paredes, portas,
fachadas e ruas. Não contentes, sublevariam o tempo, a história, o povo,
ceifando tudo que desse trabalho para cuidar. Avançariam mais e mais, até
chegar ao primeiro passo dado por Daniel de la Touche na futura Ilha de São
Luís. Nesse ponto, eles parariam. Sem ter língua que lhes fossem própria diriam
“bonjour” ao viajante francês. Ele diria “bonjour” em réplica e os nossos
governantes começariam a reconstruir o tempo, o espaço, a arquitetura e a
história, pedra por pedra. No final, tudo
seria a mesma coisa. Todos os problemas estariam no mesmo lugar, pendurados no
ar (já que não podem se sentar). A única diferençam seria o discurso dos homens
no poder. Ao perguntarem: “quando irais resolver isto?”. Eles responderiam:
“pardon, eu não sou daqui. Sou estrangeiro. Estou de passagem”.
Igor
Nascimento
18/06/2015
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