Há
muito isso acontece, mas agora está mais do que escancarado: a invasão dos evangélicos.
Deus tem hora e tem local. Saindo disso, presencia-se a cegueira do fanatismo.
A religião se torna um meio de dominação, sobretudo quando se baseia no binômio
Céu/Inferno. O dualismo é algo muito perigoso. Limitando tudo à duas escolhas, torna-se mais
fácil o controle sobre o ser. O comércio se utiliza dessa tática. Ele te dá
opção de escolher, mas, antes, todas as decisões já foram tomadas por você. Um
exemplo básico: você não opta por ter ou não ter um celular - isso já foi
decidido. O que você escolhe é se quer esse ou aquele celular. Jogo sútil que
se dá quando o marketing e a propaganda deixam de vender produtos de forma
direta para associá-los à ideais de felicidade, satisfação, status etc. Segundo
eles, você não tem o arbítrio de ser feliz conforme os seus próprios meios.
Você o será se estiver consumindo tal coisa que traz a felicidade. Essa é a lei
simples e conveniente do comércio que se baseia em ter ou ter (pois “não ter”
está fora de cogitação). Quem tem isso é feliz, quem não tem não é. Cristo
entra na mesma apropriação ideológica do comércio. Ou você é de Deus ou nada
(leia o Diabo também é filho de Deus, uma apologia cristã que fiz ao Satanás, clicando
aqui). Não existe um terceiro caminho. Em nome de Deus ouvimos os pregadores de
plantão nas redes sociais. Em nome de Deus, a família deve ser feita por um
casal heterossexual. Em nome de Deus devemos votar naquele candidato x. Por quê? Porque Deus escolheu para você.
A
volta do teocentrismo. Quanto retrocesso no curso da história de um país democrático.
Reizinhos disfarçados de pastores controlam a opinião pública de forma
impressionante. Para fazer uma peça em praça pública ou um show, preciso pagar
algumas licenças. Vejo caixas de som ligadas alto volume na praça Deodoro que
não pagam nada e incomodam todos que passam. Quem é o corajoso para dizer que
aquilo não está certo? Se é em nome do todo poderoso, tudo vale, não está certo?
Eis o fruto do dualismo. Sigamos este raciocínio: Céu/Inferno, Deus/Diabo,
Certo/Errado, Sucesso/Fracasso, Riqueza/Pobreza, Hétero/Homo,
Permitido/Proibido, Ser/Não Ser, A favor/Contra. O livre arbítrio consiste na
multiplicidade de alternativas, não em duas - sendo que a segunda opção não é a
adequada. A regimes totalitários são assim. Ou você é conservador ou é
desordeiro. Ou da raça ariana ou judeu. Ou do partido ou traidor. Essa classificação assinou inúmeros episódios
da história com sangue. O alemão que ligava a câmara de gás seguia instruções
maiores do que ele. Ele poderia muito bem não ligar a válvula. Mas, se não o fizesse,
mereceria estar do outro lado, junto daqueles que irão morrer. Não há debate
quando a situação já estabelece o que está correto e incorreto. Não vejo
diferença entre uma ovelhinha da igreja racista e homofóbica, e um skinhead.
Ambos têm uma visão binária de mundo.
Uma vez vi um jovem com uma camisa
do exército onde estava escrito: “Soldado de Cristo”. Pensei, com meus botões,
se ele não iria me encher de graça divina até me matar sem perceber.
Ótimo. Quem fala é um ateu que não usa celular.
ResponderExcluirEis um homem liberto! Prazer te ler por aqui Marcelo!
Excluir