DAS APARÊNCIAS EM POLIETILENO


      A rosa de plástico, no centro da mesa: é flor em aspecto e forma. Jamais morre, inorgânica matéria moldada e tingida. É assim: modelo, síntese-foto, pose-existência. Não envelhece – não pode. Se desbota ou entorta, se quebra. Não mais serve, joga-se fora. É feita para durar tanto tempo, e tempo não lhe é dado a morrer. Vinda de fábrica, perdeu o dom de fenecer. Daí não ser planta de verdade. As plantas sabem o momento em que devem voltar a ser terra. Se esquecem tal detalhe, tornam-se seres de plástico: vivos de mera aparência. 

Em "Caduco ou Crônicas do Esquecimento"


Igor Nascimento 

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