QUANDO MEU RELÓGIO PAROU


10:10, assinalando essas horas, o relógio da minha sala parou: faltou-lhe as baterias. Os ponteiros frisaram esse horário. Conservei-os assim, embora tal indicação temporal não tenha nada de especial para mim: não foi a hora em que nasci, tão pouco a hora de um compromisso, refeição ou hábito específico. “Num dia oportuno compro-lhe as pilhas”, nunca as comprei! Isentei-me do compromisso de fazer os minutos caminharem naquele cômodo. Quando chego, 10:10; quando saio, 10:10.  Ao dar 10:10 em todos os relógios que funcionam, o meu, sem funcionar, já marca a hora correta. Para que dar-lhe vida se, em determinado instante do dia, ele estará acertado sem qualquer esforço? Este relógio funciona perfeitamente - durante um minuto, pelo menos. Depois, às 10:11, se visto sob perspectiva horária, ele estará adiantado 11 horas e 59 minutos. Contemplado em sua anti-horariedade, ele estará atrasado 1 minuto. Para que pilhas? Durante 60 segundos, em dois momentos do dia, o tempo nasce e se põe na minha sala sem qualquer intervenção. Passados, aurora e crepúsculo, o relógio se torna apenas um objeto, como qualquer outro, através do qual o tempo passa, mas não fica. Os relógios onde o tempo permanece retido não prestam. Quer dizer: prestam, porém mecanicamente: marcam somente as horas que passam, não as horas que queimam.  


Em Caduco ou Crônicas do Esquecimento

Igor Nascimento

13/09/2015

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